Dia de aniversário

Hoje sou a menina dos anos. Hoje é o meu dia especial. Parece que ainda ontem era uma criança, e já a minha adolescência vai na reta final. Mas a vida é mesmo assim, não nos dá tempo para processar os tempos que não voltam mais, para não falar do dia-a-dia, um perfeito frenesim, passando tudo depressa demais.
Mas hoje faço anos, e por isso não devo pensar nestas angústias dos s...eres humanos. Ah, se ao menos fosse Deus! Teria o dom da eternidade, e nunca estaria preocupada com a minha idade. Mais ano menos ano, que importância teria isso? As rugas tardariam ou se calhar nem sequer viriam a aparecer, os cabelos brancos tão pouco viriam a crescer, e as malditas dores nas articulações talvez nem nunca as viesse a ter. Mas agora que reflito bem sobre o assunto, começo a duvidar que Deus também não tenha uns lapsos de memória, assim como nós quando ficamos muito crescidos. É que existir desde que o Universo foi criado, ou até antes, até aos dias de hoje, passados milhões, aliás, biliões, aliás, triliões, aliás… enfim, uma infinidade de anos, não é brincadeira nenhuma. Se eu às vezes tenho dificuldade em lembrar-me do que comi ao pequeno-almoço, como é que é possível Deus conseguir lembrar-se de quando tinha a minha idade? Atrevo-me a dizer que ter uma memória infinita é algo supradivino, impossível. Deve ser tão triste tentarmos recordar-nos de quando éramos pequeninos, dos nossos papás e vovós, dos nossos primeiros amores, e não ter a mais vaga ideia! A infância é uma parte TÃO importante e TÃO feliz da nossa vida, que perder a sua recordação é como perder parte do coração.
Mas hoje faço anos, pelo que vou deixar estes problemas existenciais para outra altura. Hoje tenho de aproveitar este dia que é só meu, porque é Sol de pouca dura. 24 horas, mais precisamente. Esta é boa: como é que o tempo avança? Quem será que, lá do seu lugar inatingível e incognoscível, fará rodar os ponteiros do relógio? Será um simples trabalhador, como qualquer um de nós (um dia também serei), que foi um dia catapultado para os confins do universo e obrigado a fazer sempre a mesma coisa durante todos os dias da sua vida por um ser todo poderoso, em troca da poção da eternidade, o seu salário mensal? Será que, assim como consegue fazer o tempo avançar, rodando para a frente os ponteiros do relógio, também o conseguiria fazer retroceder, se os rodasse no sentido inverso, até ao início da criação do Universo?
Mau, mau, hoje faço anos e, em vez de parar de pensar e limitar-me a fazer uns disparates e a festejar, estou para aqui a viajar até sei lá quando, sei lá onde, sei lá porquê. Quando me der conta disso, já o dia passou, e voltar a esperar um ano custa bué!

Escrito a 17/07


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